A pecuária de corte, voltada para a alta gastronomia, não foi sempre o principal objetivo da raça. Introduzida no Japão, ainda no século II, o Wagyu foi empregado inicialmente como tração animal para o cultivo do arroz. Foi só mais tarde, com a chegada de turistas estrangeiros, que os restaurantes e criadores da região de Kobe perceberam o sucesso da carne e investiram em sua divulgação. Hoje, a marca Kobe Beef se tornou tão popular que no mundo inteiro é entendida como um sinônimo para a carne do animal.
Existem duas principais raças de bovinos japoneses, o Black Wagyu e o Red Wagyu. O surgimento de ambas ocorreu regionalmente, onde cada província realizava cruzamentos e seleção de animais devido aos seus próprios critérios. Cada uma possui suas próprias características, como explica Marco Aurélio. “O Black Wagyu possui um melhor marmoreio na carne. No entanto, o Red Wagyu tem um melhor rendimento de carcaça”. Em média, o lucro do produtor por uma carcaça do animal gira entre R$ 8 mil e R$ 8,5 mil.
A raça chegou há relativamente pouco tempo no Brasil. Os primeiros animais foram trazidos pelo país pelos diretores brasileiros da multinacional Yakult, em 1992. É o que relata Rogério Uenishi, gerente de produção da empresa. “Nosso primeiro presidente da filial brasileira, Teruo Wakabayashi, quis contribuir com o Brasil introduzindo uma raça que pudesse aumentar o melhoramento genético da carne”, relata ele. Investindo na genética do animal, foi só depois de quase dez anos, em 2001, que a empresa abriu espaço para outros criadores começarem a adquirir seus animais.
Apenas a genética não é suficiente para que a qualidade da carne do Wagyu se sobressaia no mercado. De acordo com Rogério, apenas a criação a pasto não é suficiente para que se atinja o marmoreio adequado. “A partir de oito meses, o bezerro vai para o confinamento e deve permanecer nele por até um ano e meio“. Essa é a maior dificuldade de quem deseja criar o animal para oferecer um produto de qualidade. Outra dificuldade apontada é o abate. Atualmente, os produtores precisam contratar o abate terceirizado para então vender a carne. “Por isso temos poucos que trabalham com a venda da carne”, relata Rogério. “A maioria cria para vender o animal para produtores maiores, que conseguem investir na cadeia da carne“.
Ainda assim, a carne do animal é bastante procurada no mercado interno – que não consegue suprir a demanda. A Yakult, por exemplo, abate cerca de 50 cabeças por ano. Desta forma, restaurantes e casas de carne especializadas se vêem obrigadas a importar o produto da Austrália, do Uruguai e até da Argentina. Outra opção, quando a demanda é maior, é apostar na criação de animais cruzados com Nelore ou Angus. Restaurantes como o Rubaiyat, que tem a carne de Wagyu no cardápio, serve carne do animal 100% puro apenas durante eventos especiais – como a Feicorte 2011. De resto, o ano todo, a carne é de um animal cruzado com a raça Brangus.
De um animal de 700 kg, é possível tirar 30 kg de contrafilé. Esta é a peça mais procurada, especialmente devido a melhor visualização do marmoreio. A carne do Wagyu é considerada a mais cara do Brasil e a mais saborosa do mundo.